Blitze do Sindicato APEOC confirma carência de professores nas escolas municipais. A SME aponta o grande número de licenças como agravante da deficiência encontrada. Convocação de professores concursados está prevista para outubro.

Os alunos do 6º ano de uma escola municipal do Álvaro Weyne conversavam na calçada por volta das 11 horas de ontem. Deisy Herle de Sousa, 11, era uma delas. A garota teve apenas uma aula de ciências desde o começo do ano letivo, “porque a professora adoeceu, e o substituto nunca chegou”.

Em resposta a denúncias de pais insatisfeitos com a falta de professores dos filhos – estudantes de escolas municipais de Fortaleza, o Sindicato dos Servidores e Professores em Educação do Estado do Ceará (Apeoc) realizou ontem o primeiro dia de blitze nas instituições de ensino municipais.

As escolas visitadas são da áreas da Secretaria executiva Regional (SER) I, e o resultado do trabalho não fugiu das expectativas. “Comprovamos a tese já pública de que há carências (de professores) nas escolas municipais de diversos tipos: por licença médica, licença maternidade… (são as carências temporárias). E as carências definitivas (por aposentadorias)”.

O relatório é do diretor da APEOC, o professor Anízio Melo. Depois de visitar as escolas na blitz, o sindicato foi à Câmara Municipal de Fortaleza e repassou ao poder legislativo as denúncias recebidas pela entidade.

O encontro preparou terreno para o ato de hoje. Às 8 horas, no Dia Estadual de Luta em Defesa da Educação, na Assembleia Legislativa, os sindicalistas pedem a contratação dos professores cadastrados na reserva do último concurso – em setembro de 2009.

Conforme a Secretaria Municipal da Educação (SME), a chamada dos professores efetivos do cadastro de reserva já está prevista para o início de outubro, independente da manifestação. Professores substitutos também serão chamados a preencher as vagas temporárias.

É o caso da professora de ciências da aluna Deisy. De licença, a profissional ainda não foi substituída. E é com um riso encabulado que a menina diz que quer ser bióloga.

A mãe e dona de casa Herlene de Sousa, 38, deixa a filha na escola todos os dias, mas não “tem cabeça” de ensinar o que a menina deveria aprender nas aulas. “Como vai ser bióloga se não tem professor de ciências?”, questiona a dona de casa. No quarto da menina, vários livros de ciência dos anos anteriores. É onde satisfaz a vontade de aprender sobre a futura profissão.

Isso porque a área de interesse de Deisy não é uma das especialidades apontadas pela assessora de gestão da SME, Tereza Cristina de Almeida, como deficiências do mercado – quando a oferta de profissionais qualificados para os concursos é insuficiente.

Nas áreas de educação física, religiosa e artística “a formação dos professores não está de acordo com as exigências da lei (licenciatura plena)”, informa a assessora.

NÚMEROS

1.727 REAIS
É A MENOR REMUNERAÇÃO DE UM PROFESSOR EFETIVO NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO

863,5 REAIS
É O SALÁRIO DO PROFESSOR SUBSTITUTO . ELE TRABALHA A METADE DAS HORAS E GANHA A METADE DO SALÁRIO DO PROFESSOR EFETIVO.

240
É O TOTAL DE HORAS QUE O PROFESSOR EFETIVO LECIONA – TEMPO
INTEGRAL. O PROFESSOR SUBSTITUTO TRABALHA POR 120 HORAS.

Fonte: Jornal O POVO 15/09/2010. Janaína Brás
Editado pelo Sindicato APEOC